Fiquei a pensar. Depois li o caso da amiga do blog (ali ao lado) “Risquinhos nos olhos”. Até que, lembrei-me da época em que trabalhei numa conceituada empresa de consorcio, em que o sócio maioritário é aquela empresa que fez a musica dos “menos ais”, mas que eu não vou dizer porque neste blog a publicidade é paga.
Foi um emprego onde literalmente, comecei por baixo. Tinha tido a minha filha há pouco tempo e como o dinheiro não abonava tinha de encontrar um emprego a curto prazo e depois procurar algo dentro do que queria.
E foi assim, fui trabalhar para a linha de uma fábrica.
Tinham decorrido apenas uns dias e as lágrimas já caíam enquanto fazia aquele trabalho mecanizado. Sentia-me realmente deprimida. Mas não durou muito. Levantei a cabeça e pensei para mim - pode até ser assim, mas faças o que fizeres, fazes bem!
Interessei-me pelo funcionamento da linha, pela produção, pelos mecanismos, resolvia problemas, assumia responsabilidades, entusiasmava o pessoal. Não passou muito tempo até começar a substituir o chefe de linha na sua ausência, até passar mesmo a chefe de linha. Fui a primeira mulher a desempenhar aquele tipo de funções naquela unidade fabril.
Como o dinheiro continuava a não abundar, foi uma época em que fiz de tudo aos fins-de-semana: Assistente de dentista, empregada de mesa, empregada de loja, fazia bolos para pastelarias e restaurantes e mais alguma coisa que agora não me lembro.
Estive 6 meses na fábrica, até que surgiram vagas na parte administrativa da produção e eu e outra colega fomos chamadas para integrar as funções. Formávamos uma equipa de 6 pessoas mais o chefe. E desta vez, com algumas alterações ao ordenado.
O grande problema é que como o trabalho era maioritariamente de análise de cargas, de entradas e saídas, de contagens de produção, de desvios, detecção de falhas, controlo de produção à hora, diária, semanal… etc, Excel, Access, e o camandro, a minha companheira de transição estava a ver-se à rasca e estava constantemente a pedir ajuda.
Ora, aqui é que a porca torce o rabo!
É que tanto a ajudava, como tapava porcarias que tinha feito. E como era assim toda choninhas a pedir ajuda ao chefe caiu na sua boa cama… ups…. Graça!
Seguiu-se ano e meio em que a equipa passou por algumas reestruturações, e depois de saírem elementos e entrarem novos, já éramos só mulheres. Algumas formadas por mim, outras pelo chefe. E a minha “companheira”, lá se ia safando, mesmo sem saber formatar uma célula em Excel, ou mesmo analisar um gráfico de produção com as previsões da semana.
Até que!!! Até que… o chefe é promovido e… era altura de saber quem o iria substituir. Tanto eu como o resto da equipa, esperávamos que fosse eu, mas não! Tivemos de assistir a uma nomeação ridícula da minha “companheira” como nova responsável de equipa …”com, claro, a imprescindível ajuda da Aragana”.
Nada me deu mais prazer que redigir a minha carta de demissão nessa mesma tarde. Nada me deu mais prazer ir entrega-la ao patrão (cima do chefe), e ver a cara dele de queixo caído. Nada me deu mais prazer do que dizer tudo o que estava entalado na garganta e tudo o que eu achava quando ele me pediu sinceridade sobre a minha “saída repentina”. (mas é que eu disse – tudo!)
Sabia o que valia, sabia o que tinha feito. Sabia que nunca iria compactuar com aquilo.
Saí sem nada em vista. Saí de cabeça erguida e com o meu orgulho nos píncaros. Acabei por mudar para melhor. E mesmo que assim não fosse, mesmo que tivesse de voltar a começar por baixo… Há certas coisas que não passam de humilhações, do achincalhar o desempenho de alguém, e eu não estava para isso.
Bom fim-de-semana!