Acima de tudo não são meras promessas de amor-próprio, são princípios de respeito pela minha vida e logo, pela dos meus semelhantes, familiares e amigos.
Conheço bem o estado de espírito de pura angústia, do negro profundo que se sente, da cedência constante e do condicionar a vida inteira à disponibilidade do outro.
Apesar da lucidez me ter atacado em tempo oportuno, e não tardiamente e ao final de muitos anos como acontece a muita gente, foi o suficiente para analisar de forma rigorosa a maneira como me relacionava com o sexo oposto, e altera-la.
Nunca fui a nenhum especialista. O dinheiro nunca abundou e tive que criar a minha filha sozinha, apenas com alguma ajuda dos meus pais. Mas procurei saber sobre o assunto, falei com pessoas que passaram pelo mesmo (sempre fui muito analítica), e partilhei experiências e vivências.
Encontrei pessoas que não o faziam uma vez, mas vezes sem conta, como se usassem os relacionamentos para afastar as dores do passado, normalmente de uma infância de pai ou mãe alcoólicos, maus-tratos ou abandono. Eram dependentes da emoção, mas da emoção negativa, da dor, da impossibilidade por motivos transcendentais dos amores, e se se envolvessem com alguém “normal”, depressa acabaria por ser monótono e lhe faltar o dramatismo da luta e da incerteza. Só assim é que sentiriam a emoção amorosa. Como se amor fosse sinónimo de sofrimento.
Hoje em dia está provado que é uma doença, mas não se ouve ainda falar tanto como o vício de certas drogas, do trabalho e até do vício do sexo.
O mais difícil, como em todas as doenças, é a pessoa admitir que é doente. E este sem dúvida que foi o meu passo mais difícil. Na minha introspecção, admitir que não estava bem, que não sabia amar, principalmente que não ME sabia amar e identificar que a chave disto se encontrava numa infância pouco feliz no que respeita a atenção paterna (o meu pai tratava-nos tipo regime militar).
Vi que o meu erro de ter casado aos 19 anos com uma pessoa negligente, violenta e imatura foi praticamente inevitável. Li que é como se fosse uma tentativa inconsciente de resolver um conflito que causou muita mágoa ou dor.
Sei que, para os outros que estão de fora parecemos enfermeiras, amas, empregadas e etc e tal, mas nunca parecemos pessoas que amam e são amadas.
Hoje posso dizer que fronteira entre o que fazemos para ser feliz e o que NOS fazemos na tentativa de ser feliz é muito ténue e facilmente confundida. É aí que cometemos a maior parte das asneiras e a coisa piora significativamente quando se passa até a prejudicar a nossa relação com os outros, por vezes até familiares, em função desse(s) suposto(s) amor(es).
Quando a coisa começa a passar os limites da emoção existe sempre um escape para que nos deixemos de sentir. O meu foi a bebida. Mesmo no final da relação, todos os dias antes de me deitar mandava uma garrafa abaixo, para ficar dormente. Como a minha filha já tinha uns mesitos depressa me apercebi que o caminho era a força e a procura de ajuda, pelo nosso bem-estar, por ela… e por mim.
Mas estes limites revelam-se com todo o tipo de distúrbios. Desde a medicação excessiva a distúrbios alimentares e por aí fora.
Para não me alongar muito mais, posso dizer que não me incomoda falar do meu problema, que se ajudar alguém com situação idêntica, ficarei mais feliz. Daí partilha-lo sempre que acho que deva ou sinta.
Claro que não existem relações perfeitas, como não existem problemas sem resolução. Mas tal como tudo, temos de olhar ao espelho e ver friamente se a causa dos nossos principais problemas não está em nós e nas nossas escolhas. E a via não é simplesmente dizer ou acreditar quando as coisas estão mal: “Não presto", "A culpa é minha", "Ninguém gosta de mim." "Ninguém me compreende" – isso é apenas mais um sinal da doença - está em compreender o problema, aceita-lo e partir para a cura em auto estima e amor próprio.
Quase como o slogan: se não soubermos amarmo-nos, como vamos saber a quem amar e como amar?
A vida é cheia de coisas boas. Temos de ser dignos delas.
Ainda não tenho uma casa, um emprego efectivo e longe de ser o que gostaria. Mas hoje sou muito mais feliz do que era. Sou feliz comigo e com os que amo.