Quando somos adolescentes, gostamos de experimentar tudo, é esse o objectivo da coisa, se assim não fosse, a fase perdia a piada toda.
Ah… também se gosta de desafiar e provocar.
Tinha eu 16 anos quando fui passar a noite a casa de uma amiga para fazermos um trabalho de grupo. Ao todo éramos 4. Trabalhámos bem, pesquisámos todas as enciclopédias que tínhamos encontrado sobre o tema, transcrevemos textos (uma de nós era a escriturária para que o trabalho ficasse todo com a mesma letra), compilamos informação e seleccionámos fotos para fotocopiar no dia seguinte e que ficassem visíveis a preto e branco. Já a noite ia longa quando terminámos o trabalho.
Como também não podíamos fazer muito barulho e tínhamos de dar a entender que já dormíamos, acendemos uma vela, fumámos um cigarro à janela e sentamo-nos em círculo a fazer inconfidências por entre risos abafados.
O ambiente chamava o assunto. De pijama, com as nossas sombras a percorrer as paredes de cores laranja amarelado pela chama da vela, e com aquelas caras fantasmagóricas de sono, a Fi diz:
- Vamos contar histórias de espíritos… alguém sabe?
- Eu cá tenho imenso medo dessas coisas – reclama a Ana.
- Bora nessa. Eu não acredito nada nessas cenas mas curto bué! – digo eu toda entusiasmada. (a gente falava assim)
- Ya, começo eu! Eu sei uma bué de gira! – diz a Vera inclinando-se um pouco para a frente.
A Ana continuava a reclamar – Mas eu depois não consigo dormir… - enquanto tentava esboçar uma beiça.
- Cala-te e deixa ouvir... és mesmo cortes! – retorquiu a Fi ao mesmo tempo que dava uma safanão no ombro da Ana.
A Vera meteu uma cara séria e começou:
- Numa aldeia estava para começar um casamento. Quando a noiva chegou á Igreja o noivo ainda não tinha aparecido. Deixou-a no dia do casamento! Uma desgraça e uma vergonha! Ela com o desgosto, fugiu e correu para as matas e continuou a correr a foi rasgando o vestido e ficou toda arranhada…
- E depois? – Perguntou a Fi já com um brilhozinho dos olhos de entusiasmo.
-Depois de muito correr, encontrou uma estrada e começou a pedir boleia, mas ninguém lhe dava boleia, e ela começou a chorar e as lágrimas misturavam-se com o sangue dos arranhões. Mas ela continuou a pedir boleia até que…. Foi atropelada violentamente!
Estava tudo com cara de expectativa…
- E agora, o fantasma da noiva continua nessa estrada a pedir boleia, e sempre que alguém pára e ela entra dentro do carr…o PUM! Dá-se um acidente! É a vingança da noiva por ter morrido naquela estrada…
- ooooooohhhhhhhh…
- Agora já sabemos a causa dos acidentes na N125 – Digo eu já a rir-me.
- Não brinques com estas coisas Aragana, olha que depois és castigada – responde-me a Ana com uma cara de quem falta pouco para fugir dali.
- Vamos invocar aí um fantasma a ver se eles aparecem? Recortem letras e vamos usar um copo! Ãhm? – A Vera olha para nós com cara cúmplice de quem quer assustar a Ana.
- NÃO! – Diz a Ana.
Rapidamente desenhamos letras numa folha, recortamos e colocamos no chão e virámos um copo ao contrário. Uma palavra SIM e outra NÃO. Estava improvisado o jogo.
- Oh fantasma prrrreseeenteeeeeeeee! Tu, se nos ouves apareeeeecceeeeeeee…. – já a Vera está de braços esticados para cima e de olhos fechados. Com o ambiente da vela, era perfeito.
- Entes do aléeem, respondam se estão presentes… sim ou não!
De repente, abre-se a janela para trás com um vento forte, a vela apaga-se e desatamos todas a gritar!!!
Claro que depois foi complicado explicar-mos aos pais da Fi, porque é que tínhamos gritado e porque é que estávamos no chão, às escuras, agarradas umas às outras completamente apavoradas!
Nunca mais falámos no assunto. No entanto, isso não impediu que eu e a Fi, semanas mais tarde, fossemos fazer uma visita a uma casa supostamente assombrada! Apanhámos um valente susto. Nunca corri tanto na minha vida.
Mas essa história fica para outra vez!